O mercado literário português pela voz de um editor

Fiquei agradavelmente surpreendida ao ver que um dos podcasts que sigo atentamente no YouTube, o Bitalk – Negócios à Portuguesa, lançou o livro “Pensa em Grande, Faz Agora”. A propósito do lançamento do livro, o Tocha e o José Serra aproveitaram para conversar com Ricardo Antunes, fundador da editora independente Alma dos Livros.

Nesta conversa, Ricardo Antunes, faz revelações sobre o mercado editorial português e fala abertamente sobre este tema, deixando alguns esclarecimentos para os autores e leitores portugueses.

Enquanto assistia, fui tirando algumas notas e fazendo algumas reflexões, e naturalmente surgiram respostas a algumas questões que me acompanhavam há algum tempo e para as quais encontrei resposta.

As minhas notas e aquilo que considero importante destacar.

1. Em Portugal, existe uma tendência de cada vez se vender mais livros e cada vez se ler mais, mas também há mais títulos a serem publicados.

2. Só a Alma dos Livros, vai publicar este ano 140 livros, o que dá uma média de 2 a 3 livros publicados por semana.

3. Os livros nos últimos 10/15 anos têm aumentado muito pouco o seu preço e não têm acompanhado a inflação, o que os torna mais acessíveis para o público.

4. Centenas de agentes literários contactam diariamente as editoras portuguesas, no sentido se divulgarem autores estrangeiros e os seus títulos. Cabe às editoras fazerem uma seleção do que pretendem publicar em Portugal e comprarem os royalties.

5. A Criada da Freida de Freida Mcfadden, foi uma das apostas da Alma dos Livros e foi um caso de sucesso, pois o livro foi o mais vendido em Portugal nos anos de 2023 e 2024, tendo até ao momento vendido 110.00 exemplares.

Ao aperceberem-se do crescente sucesso da autora, a Alma dos Livros foi comprando outros títulos da autora e neste momento tem todos os seus títulos contratados. Por norma, um autor estrangeiro fideliza-se a uma editora.

6. Uma boa capa, um bom título, uma boa tradução, uma boa abordagem comercial e uma boa estratégia de marketing, são fundamentais para o sucesso de um livro estrangeiro em Portugal.

7. Antes de um lançamento de um livro a editora tem que suportar custos de design de capa, tradução, royalties adiantados, custos com pontos de venda nas livrarias e marketing, entre outros.

8. O destaque dos livros nas livrarias varia muito, por exemplo, as grandes cadeias e hipermercados têm já espaços definidos para essse efeito, sendo que algumas vendem espaços na entrada de loja ou nos pontos mais procurados. As campanhas do dia do pai, de verão, do dia do livro ou de Natal, têm espaços próprios de destaque.

9. Existe bastante control sobre o mercado livreiro em Portugal para proteger autores, editoras e livreiros, sobretudo os mais pequenos. Existe a chamada lei do preço fixo, que estabelece durante 24 meses, que as livrarias só podem fazer 10% de desconto sobre o preço estipulado pelo editor. Este valor de desconto pode ser alterado pelo editor, mas se o fizer tem que estabelecer o mesmo preço para todas as livrarias.

10. A média de venda de um livro (título) em Portugal, é de 600 exemplares e a média de tiragem é de 1500. Pode considerar-se que um livro em Portugal é um sucesso se vender 5000 e 6000 exemplares.

11. Em Portugal, o consumo de ebooks representa somente 2% a 3% do valor total do mercado de vendas de livros.

12. As margens de todos os envolvidos no processo editorial são muito baixas, quer para o editor, distribuidor, livrarias e autor. Um autor recebe em média 10% do valor da venda dos seus livros, mas a tendência é que esta percentagem seja reduzida.

13. Apesar de ainda serem poucos, há cada vez mais autores em Portugal a viver da venda dos seus livros.

Para veres esta conversa na integra e ficares a saber mais sobre o mercado editorial, acede ao canal https://www.youtube.com/@Bitalkpodcast