Biografia: Astrid Lindgren, a autora da inesquecível Pippi das Meias Altas

Nascida em 1907, em Vimmerby na Suécia, Astrid Lindgren marcou a literatura infantil com as aventuras de Pippi das Meias Altas.
Näs, em Vimmerby, foi o lugar onde tudo começou. Foi ali que Astrid Lindgren nasceu, numa casa vermelha cercada de macieiras. Segunda filha do casal de agricultores, Samuel e Hanna, Astrid cresceu com seus irmãos e ali obteve inspiração para muitas de suas histórias, como a árvore de limonada de açúcar de Pippi.
A INFÂNCIA DE ASTRID LINDGREN
Astrid descreve a sua infância como um período muito feliz, com uma constante sensação de segurança e amor dos seus pais. Ela cresceu livremente, brincando com os seus irmãos e com muitas outras crianças que moravam nas proximidades.
“Como brincávamos, meu irmão, minhas irmãs e eu! Do amanhecer ao anoitecer. Incansavelmente, cheios de excitação e alegria, às vezes com nossas vidas em risco, mas isso não entendíamos.”
Os dias das crianças não eram só preenchidos com brincadeira, pois tinham que ajudar os pais. Astrid disse que aprendeu muito nessa época sobre a condição humana, ao conviver com os trabalhadores temporários que os pais contratavam para ajudar a cultivar a terra.
Como na época não tinham rádio e televisão, a principal fonte de entretenimento era a tradição oral de contar histórias, por isso durante os intervalos de trabalho e na pausa para as refeições, eram contadas histórias, contos, anedotas e canções. No que ouviu, Astrid encontrou inspiração para alguns dos personagens singulares dos seus livros.
Em 1914, mais ou menos na mesma época em que a Primeira Guerra Mundial estourou, Astrid Lindgren foi para a escola e como estava um pouco assustada, pediu à sua mãe para ir com ela no primeiro dia. Nessa época conheceu aquela que viria a ser a sua melhor amiga durante toda a sua vida, Mardie ( Madicken).
Após três anos de escola primária, Astrid e Mardie continuaram os estudos na escola secundária. Apesar dos custos, Samuel, o pai de Astrid, fez questão que todos os seus filhos estudassem.
Astrid leu praticamente todos os livros da biblioteca da escola e o seu professor de línguas, ao perceber o seu gosto pela leitura, incentivou-a a escrever. Quando tinha treze anos, a redação de Astrid sob o título “Na Nossa Fazenda”, foi publicada no jornal de Vimmerby.
“Uma infância sem livros, não seria infância. Seria como ser excluída do lugar encantado onde podes ir e encontrar o tipo mais raro de alegria.”
Seria no jornal de Vimmerby que Astrid conseguiria o seu primeiro contrato de trabalho, quando tinha apenas dezasseis anos e onde também conheceria o pai do seu primeiro filho, Lasse.
A MUDANÇA PARA ESTOCOLMO
Em 1926, Astrid muda-se para Estocolmo onde começa a estudar secretariado no Instituto Bar-Lock. Em 1928, Astrid consegue um emprego no Royal Automobile Club (KAK), onde Sture Lindgren se tornou seu chefe e com quem se casou em 1931. Após o casamento, Astrid dedicou-se à vida familiar e esporadicamente escrevia textos para algumas revistas. Em 1934, nasce a sua filha Karin e o que Astrid mais gostava de fazer era levar os filhos ao parque e brincar com as outras crianças.
Em 1941, a filha de Astrid, Karin, ficou doente e queria que a sua mãe lhe contasse uma história. “Conte-me a da Pippi das Meias Altas”, ela implorou e naquele momento inventou o que se tornaria um dos personagens mais reconhecíveis da ficção infantil ao redor do mundo. Ao longo de vários anos, ela inventou novas histórias para Karin e seus amigos. Mais tarde Astrid diria “Por ser um nome estranho, tinha que ser uma garota igualmente estranha”.
A PUBLICAÇÃO DOS PRIMEIROS LIVROS
Em 1944, Astrid torceu o tornozelo e para passar o tempo enquanto descansava, passou as histórias de Pippi para o papel. Enviou o manuscrito para a maior editora de livros da Suécia, que o recusou por achar o conteúdo muito controverso e temer que tivesse uma má influência nas crianças. Em 1945, Astrid enviou o manuscrito novamente, tendo-o retrabalhado um pouco, desta vez para o concurso de escrita da editora Rabén & Sjögren. Ela ganhou o primeiro prémio e o livro foi publicado.
O livro de Pippi das Meias Altas tornou-se um grande sucesso e a sua paixão crescente pela escrita resultou numa série de livros. Entre 1944 e 1946, Astrid escreveu seis livros para crianças e jovens adultos: The Confidences of Britt-Mari , Pippi das Meias Altas, Kerstin and I, The Children of Noisy Village, Blomkvist Master Detective e Pippi das Meias Altas sobe a bordo.
ASTRID LINDGREN ELEVOU O STATUS DA FICÇÃO INFANTIL
Durante as décadas de 1950 e 60, Astrid escreveu pelo menos um livro por ano, viajou o mundo para falar sobre seus livros, deu muitas entrevistas e escreveu milhares de cartas, tanto para seus amigos quanto respondendo aos leitores. Astrid Lindgren, contribuiu para elevar o status da ficção infantil e em 1958, ela escreveu um artigo para a revista da “Skolbiblioteket” sob o título “Por que as crianças precisam de livros” onde escreveu o quão importante a imaginação é para todos nós e que “a imaginação da criança precisa de livros para viver e respirar”.
O PRÉMIO ASTRID LINDGREN E OS ÚLTIMOS LIVROS PUBLICADOS
Para o sexagésimo aniversário de Astrid em 1967, o Prémio Astrid Lindgren foi criado pela sua editora e tem sido concedido todos os anos desde então a uma autor de ficção infantil.
Após uma pausa na escrita de alguns anos, Astrid apresenta o livro “The Brothers Lionheart” em 1973, um romance de aventura e uma história romântica e atemporal sobre a luta entre o bem e o mal, sobre coragem e medo, amor e morte.
Astrid Lindgren, não só se tornou uma das principais autoras da Suécia, como também uma das formadoras de opinião mais importantes do país. Ao longo de sua vida, ela opôs-se consistentemente à injustiça e à opressão. Em 1976, foi publicado, “Mardie to the rescue”, onde Astrid através dos olhos de Mardie, retratava injustiças sociais, diferenças de classe e opressão. Mardie é uma menina privilegiada com uma profunda paixão por justiça, que descobre exatamente o quão implacável e profundamente injusta é a sociedade.
“Ronja, a filha do ladrão”, publicado em 1981, foi o último romance da autora. O tema central do livro, a relação dos seres humanos com a natureza, tornou-se sua última grande batalha: lutar pelo bem-estar dos animais de estimação da Suécia e pela preservação dos espaços verdes do país.
Com a idade, a visão e a audição de Astrid Lindgren diminuíram, mas ela ainda manteve um ritmo alto até a década de 1990. Conforme a sua saúde se foi deteriorando, Astrid dedicou-se a responder às cartas que lhe escreviam e em janeiro de 2002, Astrid Lindgren faleceu em sua casa em Dalagatan.
UMA CARREIRA DE SUCESSO
Os livros de Astrid, traduzidos para mais de 100 idiomas, são famosos pelo seu humor e o seu forte compromisso com os direitos e a igualdade das crianças. As suas histórias, já venderam mais de 170 milhões de cópias e continuam a inspirar e lembrar-nos do poder da imaginação, da amizade e da coragem.
Na sua carreira recebeu mais de 100 prémios literários, entre os quais o Prémio Hans Christian Andersen (1958) e a medalha de ouro da Academia Sueca (1971). Em 2023 a BBC Culture incluiu Pippi das Meias Altas entre “Os 100 maiores livros infantis de todos os tempos”.
Em Portugal, só encontrei publicados em português, os livros da Pippi das Meias Altas e são livros recomendados no Plano Nacional de Leitura (PNL2027) na literatura dos 9 aos 11 anos.
Se quiser saber mais sobre a vida de Astrid Lindgren, consulte as seguintes fontes de informação: www.astridlindgren.com | www.visitsmaland.se |
Fotografia de Astrid Lindgren e Pippi das Meias Altas em Last.fm