Quem é Elena Ferrante aos olhos da tradutora dos seus livros?
Elena Ferrante é o pseudónimo de uma escritora italiana cuja identidade é desconhecida do público e apesar de existirem várias especulações sobre a sua verdadeira identidade, até hoje ninguém desvendou o mistério. As entrevistas que concede são sempre por email e através da sua editora, o que alimenta ainda mais a especulação sobre a sua identidade.
Numa carta escrita em 1991, a autora de certa forma justifica o seu anonimato, ao revelar: “Acredito que os livros, uma vez escritos, não precisam de seus autores”
Em entrevista concedida via email ao Il Corriere della Sera, Elena Ferrante revela: “Não me arrependo de meu anonimato. Descobrir a personalidade do escritor através das histórias que propõe, das suas personagens, dos objetos e paisagens que descreve, do tom da sua escrita, não é mais nem menos que um bom modo de ler”.
No livro “La Frantumaglia”, que em português foi traduzido como “Escombros”, admite ter nascido em Nápoles em 1943 e daí terá surgido o título de “Saga Napolitana” ou “Romances Napolitanos”, dado aos seus livros de maior sucesso: “A amiga Genial”, “História do Novo Nome”, “História de Quem Vai e de Quem Fica” e “História da Menina Perdida”.
No livro “Escombros” (Relógio D’Água, 2016), Elena Ferrantes reflete sobre o seu processo de escrita ao longo de vinte anos e partilha ainda a angústia de criar uma história e descobrir que não é boa o suficiente, destacando a importância do universo pessoal para o processo criativo.
Nas trocas de correspondência, nos bilhetes e nas entrevistas, a autora contempla a relação com a psicanálise, as cidades onde morou, a maternidade, o feminismo e a infância, aspectos fundamentais à produção de suas obras.
A descoberta da sua personalidade tem encantado Ann Goldstein, a tradutora dos seus livros para inglês. A correspondência trocada entre Ann Goldstein e Elena Ferrante, é sempre feita por email e através da editora, por isso a tradutora diz que desconhece a sua identidade.
Ann Goldstein, tem sido o rosto em eventos relacionados com os livros de Elena Ferrante, pois uma vez que a autora decidiu manter o anonimato é a tradutora que é chamada para entrevistas, eventos, debates e conferências. Segundo ela, “As pessoas parecem ter necessidade de ter uma pessoa para focar sua atenção quando se trata de um livro, seja o autor ou outra pessoa”. Ann Goldstein refere também que para ela é importante ir a estes eventos pois “Uma das razões pelas quais gosto de fazer isso é que acho que é muito importante chamar a atenção para o tradutor. Caso contrário, o tradutor muitas vezes se perde”.
Na opinião de Ann Goldstein, a autora Elena Ferrante é uma pessoa extremamente culta, possui um acervo considerável de conhecimento literários e parece ter lido todo o feminismo italiano e francês.
A tradutora também considera que ela é sem dúvida uma intelectual e trabalha muito na sua escrita e faz muitas revisões e reescreve os textos. Ela não publica nada que não esteja exatamente como ela pretende, pois tem uma forte consciência de si mesma e do que pretende.
Ann Goldstein, acredita que Elena Ferrante é de uma inteligência extraordinária e também uma pessoa muito determinada, que é uma caraterística importante para escrever romances deste tipo, em que é preciso primeiro ter os personagens claros na mente para poder explorar sua psique de forma tão precisa, detalhada e concreta.
Fontes: intrinseca.com.br | www.wook.pt | www.terra.com.br | www.corriere.it | www.edizionisur.it | www.sarasotamagazine.com